quarta-feira, junho 09, 2010

Copa do Mundo 2010

A Copa é um acontecimento interessante. Talvez mais interessante pelas repercussões mundo afora do que pelo futebol apresentado pela maioria das seleções. Sociologicamente interessante, eu diria. Porque ressoa uma série de opiniões e situações que de outras formas não são levadas em conta. Vou me expressar melhor:
Quando a Copa do Mundo se aproxima, os comentários brasileiros na internet (blogs, sites esportivos, twitter, etc.) focam normalmente na lista dos convocados da nossa seleção, algo um pouco inútil mas dá "pano pra manga" nas discussões de bar. A sua opinião sobre o futebol (medíocre e feio) do Josué pode ser muito balizada, mas não faz a menor diferença na hora de o Dunga definir a lista dos 23 sortudos que vão disputar o torneio!!!
Outro assunto que toma conta dos coments é a situação econômica-política-sociológica do país sede. E claro que isso não acontece só em tempos de Copa. Quem não se lembra dos arquivos ppt. e dos emails furiosos sobre a tortura na China durante as últimas Olimpíadas ou sobre a violência e as favelas cariocas nos Jogos Panamericanos de 2007. Agora é a vez da AIDS, desemprego e apartheid na África do Sul. Eu apenas me surpreendo com a quantidade de gente que realmente acredita que, sem um evento esportivo dessa magnitude, o dinheiro que está sendo investido nos estádios iria beneficiar a população de alguma outra maneira!! Ranço de uma mentalidade assistencialista tipicamente brasileira.
Outra opinião que todo mundo ouve (e a maioria já expressou alguma vez) é: "Que absurdo o salário que esses jogadores ganham!". Bem, não deixa de ser verdade.. muitos jogadores que participarão da Copa recebem salários astronômicos, cifras que nenhum de nós, simples mortal, tem a menor noção da grandeza. Mas por que temos essa tendência a condená-los por isso? Seria por algum acaso um crime deles, ou uma falta, ser bem remunerado por algo em que você é único? Quantos mais no mundo tem a habilidade e a inteligência tática de um Kaká? Será que as leis de mercado estão tão equivocadas quando se define que o passe dele vale 65 milhões de euros, e que o salário que ele merece receber equivale a 9 milhões de euros por ano? É um dinheiro fora da minha realidade, mas se alguém está disposto a pagar, não seria porque o talento do Kaká produz muito mais do que isso? Podemos conversar sobre economia e criticar a bolha criada no futebol europeu e até onde é sustentável. Mas não podemos esquecer o mérito de um craque talentoso. E poderíamos estrapolar essa conversa para a situação de mais uns 30 ou 40 jogadores que disputarão a Copa da África do Sul.
Basicamente, o que defendo aqui é que as "discussões de bar" são exatamente isso: senso comum, manchado com uma série de pré-conceitos, repetidos e espalhados através da internet ou do boca-a-boca, normalmente guardando pouquíssima relação com a verdade. Além disso, são fomentadas cada vez mais por "comentaristas" pouco comprometidos com a realidade e a credibilidade das informações, e muito comprometidos com a polemização. Perde o leitor/telespectador que se fia nessas "opiniões".

sexta-feira, junho 04, 2010

4 anos de formado

Estou completando no próximo mês o aniversário de 4 anos da apresentação do meu TCC na UFSC. Aquele foi um tempo estranho, pelo qual passei com muita expectativa e alguma dificuldade, mas acima de tudo foi o coroamento de um tempo muito bom na graduação. Hoje, anos depois, acredito já ter o distanciamento suficiente para fazer uma análise do meu aproveitamento e dos encaminhamentos que a minha vida tomou a partir daquele mês de julho.
Inicialmente, hoje eu tenho bastante clareza dos limites do meu curso de graduação em Educação Física. Não apenas do meu limite como estudante, pensamentos do gênero: "eu deveria ter aproveitado mais" ou "se eu tivesse uma nova oportunidade teria feito diferente". É claro que teria feito diferente, ninguém seria tão burro de cometer os mesmos erros na mesma ordem nas mesmas circunstâncias. Mas não faço idéia se teria sido melhor ou pior, e isso não faz mesmo diferença. A idéia é avaliar as condições do curso em si, se atendeu ao que se propôs.
Quando entrei na faculdade, eu tinha uma idéia da profissão, uma idéia absolutamente limitada. Acreditava que ao me formar eu iria dar aulas em um escola. Não pensava muito na condição financeira que isso me daria, ou nas outras possibilidades. Nunca fui muito empreendedor e naquela época, aos 19 anos, não tinha a menor idéia das possibilidades que se abrem e dos desafios da minha profissão. E a faculdade nunca fez nenhuma questão de me mostrar essas situações.
Então, para elencar alguns limites do curso (e não falo só da Educação Física, talvez possamos generalizar bastante):
1. Os professores, em sua maioria, não tem o menor compromisso com a formação dos seus alunos. São funcionários públicos, muito preocupados com suas promoções e com a política do departamento. Raramente são comprometidos até mesmo com a sua área de estudo e atuação.
2. Os professores, em sua maioria, nunca atuaram profissionalmente fora da universidade. Pode não parecer tão importante em determinadas áreas / disciplinas, que são consideradas mais "científicas" ou "de base". Descobri que não é verdade. Professores que não conhecem a atuação profissional não valorizam o mérito, não sabem aplicar seu conteúdo e nem mesmo explicar sua importância e relevância. Estimulam alunos que produzem trabalhos desconectados da realidade e que esperam reconhecimento por algo inútil ou desqualificado.
3. A estrutura da universidade é lenta, paquidérmica. Não acompanha a necessidade da sociedade e, na verdade, grita para todos os lados que não liga a mínima. Demora anos modificando um currículo para, ao aplicá-lo, descobrir que já está totalmente desatualizado da realidade local da profissão.
4. Os alunos não fazem a menor idéia do que estão fazendo ali. E quando digo isto, reconheço que parte da culpa é dos alunos, mas grande parte é da própria universidade e dos professores, pelos 3 motivos que citei acima. Uma instituição que trabalha desvalorizando o mercado de trabalho, distanciada dos profissionais egressos, não pode mesmo contribuir de forma consistente para a transformação deste mercado.
Pode parecer que estou frustrado com a minha profissão, lamentando a formação que recebi. Pois é justamente o contrário. Hoje, após 4 anos de "carreira" (na verdade, posso considerar pelo menos 8 anos, tendo em vista os estágios), finalmente assumi o direcionamento das minhas ações, e tenho alguma clareza sobre a situação da minha profissão em Florianópolis e no Brasil. Finalmente consigo enxergar para além dos preconceitos a que os professores insistem em chamar de marxismo, socialismo, dialética ou qualquer outro rótulo.
Ser um profissional em qualquer área, especialmente quando se tem a expectativa de me tornar eu mesmo um professor, exige compreensão de mundo e comprometimento com um projeto. A universidade nunca falou sobre isso. Na verdade, propaga uma compreensão de mundo viciada, e se compromete (apenas da boca pra fora) com um projeto que os alunos não compreendem e com o qual não compactuam. Quando o estudante se forma, encontra um mundo muito diferente do preconizado pela academia, precisando fazer dinheiro, conhecer pessoas, empreender....  mas não faz a menor idéia de como fazer isso. A conclusão é triste, pois muitos saem de suas áreas de formação, outros correm para concursos públicos, outros tantos se mantém na academia, entre mestrados, doutorados, extensões, e se tornam professore universitários, perpetuando as limitações da formação inicial da área.
Mas eu tenho uma proposta: profissionais que encontraram o caminho, que, após "camelarem" bastante, construíram uma carreira, invistam nos outros profissionais, naqueles que estão chegando. Não se acomodem, não se esqueçam de quem, como aconteceu com vocês, está caindo de pára-quedas no meio da batalha, sem saber de nada, sem conhecer ninguém....