terça-feira, novembro 04, 2008

Cristianismo Puro e Simples - I

"A principal coisa que aprendemos quado tentamos praticar as virtudes cristãs é que fracassamos. Se tínhamos a idéia de que Deus nos impunha uma espécie de prova na qual poderíamos merecer passar por tirar boas notas, essa idéia tem de se ser eliminada. Se tínhamos a idéia de uma espécie de barganha - a idéia de que poderíamos cumprir a parte que nos cabe no contrato e deixar Deus em dívida conosco, de tal modo que, por uma questão de justiça, ele ficasse obrigado a cumprir a parte dele -, ela deve ser eliminada também.
Creio que quantos possuem uma vaga crença em Deus acreditam, até se tornarem cristãos, nessa idéia da prova ou da barganha. O primeiro resultado do verdadeiro cristianismo é o de reduzir essa idéia a pó. Quando a vêem reduzida a pó, certas pessoas chegam à conclusão de que o cristianismo é um embuste e dele desistem. Essa gente parece imaginar que Deus é extremamente simplório. Na verdade, ele sabe de tudo isso. Uma das intenções do cristianismo é justamente reduzir essa idéia a pó. Deus está a espera do momento em que você vai descobrir que jamais conseguirá tirar a nota mínima para passar nesse exame, e não poderá jamais deixá-lo em dívida.
Com isso vem outra descoberta. Todas as faculdades que você possui, sua faculdade de pensar ou de mover os membros a cada momento, lhe são dadas por Deus. Mesmo se dedicasse cada momento de sua vida exclusivamente ao seu serviço, você não poderia dar-lhe nada que, em certo sentido, já não lhe pertencesse. Logo, quando uma pessoa diz que faz algo para Deus ou lhe dá algo, é como se fosse uma criança pequena que interpelasse o pai e lhe pedisse: " Papai, me dê cinqüenta centavos para lhe comprar um presente de aniversário." É claro que o pai dá o dinheiro e fica contente com o gesto do filho. Tudo é muito bonito e muito correto, mas só um imbecil acharia que o pai lucrou cinqüenta centavos com a transação. Quando o homem descobre essas duas coisas, Deus pode realmente começar a agir. É depois disso que a verdadeira vida começa. O homem agora está desperto."

C.S. Lewis (1942). P. 190-191.

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