Me admiro com recorrência da capacidade de os velhos agirem como crianças: irresponsáveis, impressionáveis, ingênuos e futriqueiros.
Também me admiro, e cada vez mais percebo isto, da capacidade de os jovens agirem como velhos: ranzinzas, resmungões, impacientes, opiniáticos, críticos.
Maturidade e jovialidade deveriam ser virtudes buscadas por cada pessoa, independente da idade. O equilíbrio entre estas condições é imprescindível a alguém que seja admirado por seus pares. Agir como crianças irresponsáveis, que não assumem seu tempo, dinheiro e relacionamentos, é tão ridículo quanto passar a vida a lamentar o não-realizado, as impossibilidades.
Acredito mesmo que esses desequilíbrios são ainda mais perniciosos na minha profissão. O educador, por definição é um preceptor, um aio, um pedagogo. Ou seja, seu papel é o de conduzir os mais jovens ou os mais inexperientes no caminho do conhecimento, da cultura (no sentido do que é construído e acumulado pelos ancestrais), e das possibilidades. O mestre é o que descortina à vista do outro a realidade e o que ainda não é, de modo a despertar intenções e atitudes.
Um mestre “velho“ ou “moleque“ boicota os sonhos, inibe as realizações, interrompe a esperança. Fico a imaginar a mente dos pequenos (ou não tão pequenos assim, já adolescentes e jovens) ao chegarem à escola, cheios de energia e expectativa, mas ouvindo o tempo todo um professor (ou professora) que grita aos quatro ventos: "Não tenho esperança com relação a minha vida, estou frustrada" e ao mesmo tempo, com o dedo em riste: "Você não tem jeito, não vai dar nada, ninguém te aguenta!".
É simplificar por demais imaginar que melhores salários para os professores resolveriam esta situação. A luta pelo desenvolvimento da educação, por sua valorização, pela formação e aprimoramento dos professores é fundamental a uma nação, sem dúvida. Mas o problema do qual estou falando é muito mais profundo. Vivemos numa sociedade em que os jovens não acreditam que podem fazer alguma diferença e em que os velhos se tornam cínicos.

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