segunda-feira, outubro 27, 2008

Eleições - Parte 4

Acabou (no Brasil, desta vez).. mas na verdade só começou!

Em vários sentidos: primeiro porque é agora que começa realmente o que importa - o governo dos eleitos! Até agora não fizeram nada, só prometeram, criticaram, prometeram, ofenderam, sorriram, prometeram. Na maior parte dos casos, promessas bem vazias, sem preocupação com a possibilidade de efetivação, orçamento, responsabilidade fiscal, etc. Até agora só o jogo político, acertos, troca de cargos, mas nada de concreto.

"Essa eleição foi marcada pela canibalização recíproca dos candidatos, pela tentativa de desconstruir os rivais desnudando seu passado e expondo seus aliados indesejáveis. Esse excesso de sangue na arena ofuscou os programas políticos, as propostas para os municípios. A maioria dos eleitores não sabe como sua cidade será administrada nos próximos quatro anos." Gaudêncio Torquato - Veja (29/10/2008)

A minha parte otimista me lembra que isso faz parte, é importante para a concretização de uma democracia madura. A minha parte pessimista me lembra que é verdade, faz parte, o problema é que as outras partes não tem participado muito (perdão pela redundância!).

Daqui a alguns dias os EUA terão suas eleições. Pelo menos, o dia 04 de novembro é a data oficial. Sabemos que em vários estados o processo já começou. E os debates acalorados entre Obama e McCain já se arrastam por semanas..

Ontem perdi a hora pra votar. Estava viajando, não cheguei a tempo, e hoje fui visitar o TRE para justificar.. Não sentirei muita falta, assim como não senti falta nenhuma de ter servido o exército ou como não sentiria falta nenhuma de declarar o imposto de renda. São obrigações, não convicções. Acredito que seja assim para a grande maioria da população. Uma pena, mas cansei de escrever e pensar sobre isso.. Eleição, graças a Deus, só em 2010. Até lá, vamos ver se alguém trabalha!!!

quinta-feira, outubro 16, 2008

Eleições - Parte 3

Momento "conversa de boteco":
"- O Obama vai ganhar, você viu?
- Pois é, tô torcendo por ele. Essa guerra do Iraque tem que acabar!! Já morreu tanta gente..
- É, e agora com essa crise das bolsas, o McCain não tem muita chance mesmo, né? Você viu o debate ontem na RecordNews?
- Não, preferi assistir o jogo do Brasil.."

Bem, apesar de o jogo do Brasil contra a Colômbia pelas Eliminatórias ter sido terrível, provavelmente o nosso amigo escolheu corretamente. Afinal de contas, ele não entende patavinas do que acontece no processo eleitoral americano e muito menos qual a relação entre uma guerra no Oriente Médio, o preço das commodities (se é que ele conhece essa palavra!) e a crise em Wall Street e nas bolsas de valores ao redor do mundo. É o tipo de informação que nada acrescenta para a maior parte das pessoas.

E este período do ano está sendo muito triste. Além da corrida eleitoral do segundo turno em muitas cidades do país (inclusive as três mais importantes e essa em que eu moro), as notícias giram também sobre crise financeira e eleição nos EUA, eliminatórias da Copa do Mundo de Futebol, seqüestro em Santo André. E a gente ouve cada calamidade da boca das pessoas! Se já não bastassem as crises, agora temos que conviver com as opiniões de todos os Zés.

Em nosso país, e em muitos outros com certeza, o acesso a informação é cada vez maior. Já temos há alguns meses o primeiro canal de telejornalismo 24h na TV aberta. Já tínhamos excelentes telejornais, jornais escritos, revistas, sites, etc. Mas isso não basta. Pessoas incapazes de relacionar e selecionar as informações recebidas não atingem os próximos degraus da compreensão. Apenas escutam e copiam opiniões. Dizemos que o brasileiro tem memória curta, e na hora da eleição percebemos exatamente isso: se o candidato a reeleição faz algo há 1 mês da eleição, quer dizer que ele governou bem, e não importa muito se ele passou o resto do mandato coçando! Ou pior...

Quando o Zé explicita uma opinião sobre a campanha eleitoral dos americanos ou seus motivos para votar em qualquer pessoa na campanha para vereador, fica evidente o quanto falta para que o Brasil atinja o nível de democracia que alardeia. Dar o direito de votar ao Zé não apenas é inútil quanto é irresponsável.

Mas não acredito que a solução seja tirar o direito ao voto, e sim capacitar os eleitores para o voto, a leitura, a análise, as escolhas. Quando tivermos um eleitorado que saiba procurar as informações relevantes, ler e entender o que lê, comparar as informações e as opiniões, neste momento saberemos qual é a vontade do povo em uma eleição. Só neste momento haverá uma "vontade". Enquanto isso, ganha quem tiver o melhor marqueteiro!

segunda-feira, outubro 06, 2008

Eleições - Parte 2

Bem, passamos da primeira parte agoniante das eleições municipais no Brasil. Hoje, segunda-feira, é dia de análises, comemorações, muita sujeira na rua, e um "gostinho residual" de ressaca.

As análises são feitas em todos os telejornais, jornais impressos, revistas semanais, nas conversas de boteco, pelos meus alunos e colegas na academia, no ônibus e em todos os outros lugares do país. E essa é uma das vantagens dessas eleições municipais. O país participa como um todo, afinal todos (sem exceção)tem interesse nos resultados. Cada pequeno município escondido teve suas campanhas, seu interesse, a angústia da apuração. Ouvi inclusive de um pequeno município aqui em Santa Catarina em que a "angústia" durou apenas 7 minutos. às 17:07 já se sabia o resultado! Maravilhas da Urna Eletrônica!

Mas não posso ficar satisfeito com a análise de boteco! Se o Zé (analfabeto, desdentado, pai de 11 filhos) acha que o resultado foi bom, porque o novo prefeito vai asfaltar a sua rua, tudo bem! Mas que os formadores de opinião embasem suas análises em fatores tão pequenos quanto esse, é inaceitável! E nós, podemos nos contentar com análises do gênero: "este rouba mas faz", "este pelo menos fez alguma coisa", "este tem influência no governo do estado / país, e via trazer algum dinheiro pra cá", "este é amigo da minha classe / igreja / profissão", "este é simpático", "este é amigo / marido / namorado / parente de fulano"???

Infelizmente, é basicamente só isto que tenho ouvido! Desde ontem, praticamente todas as pessoas que comentam as eleições fazem análises desse padrão!

Mas vou fazer duas perguntas relacionadas a eleição municipal. São difíceis e provavelmente complicam muito a escolha de um candidato. Mas sem a resposta a elas, é ridículo pensarmos em alguma utilidade para o processo eleitoral. Se os critérios para escolhermos um governante são tão inconsistentes, qual é a diferença entre nós escolhermos ou uma comissão eleitoral escolher? Em tese, a chance de acertar é praticamente nula! A menos que consideremos a possibilidade de uma comissão justa e imparcial: neste caso, a chance de uma comissão acertar aumenta exponencialmente! As nossas chances, no entanto...

As perguntas são: "Qual é o projeto de cidade que o candidato possui?" e "Quais são as minhas expectativas para a cidade?". Em geral, ninguém nunca respondeu a segunda pergunta de forma honesta. Ninguém parou para pensar quais são as necessidades do município e elencá-las pensando numa visão de médio e longo prazos. Se nunca respondemos a segunda, mesmo que algum candidato responda satisfatoriamente a primeira, quais são os critérios para escolhermos.

Já avançamos muito como povo brasileiro. Quero deixar claro que não defendo a volta ao colégio eleitoral, a ditadura ou qualquer forma de governo tipicamente sulamericana. Mas ainda estamos diante de um longo caminho! Colocar o exército nas ruas do Pará ou do Rio de Janeiro apenas prova que o trabalho de democratização brasileira ainda será longo. Eleger governantes que utilizam a máquina pública pra fazer campanha ou que só trabalham com afinco no último ano para serem reeleitos, provam o mesmo desafio.

quarta-feira, outubro 01, 2008

Eleições - Parte 1

Bem, minha nova empreitada nas próximas semanas será discorrer um pouco sobre o processo eleitoral que se abate sobre o país no próximo domingo. Pode parecer que estou atrasado, mas não concordo. Passei as últimas semanas lendo e ouvindo muita coisa, e a minha discussão mental não se restringe ao primeiro turno das eleições municipais e nem mesmo à exclusividade do pleito no Brasil.

No próximo domingo, dia 5 de outubro, o processo eleitoral atinge o seu primeiro clímax no Brasil. Em Florianópolis, onde moro, já sabemos que haverá o segundo clímax, algumas semanas depois. E em muitas outras cidades a situação será a mesma. Além disso, o país mais rico do mundo também está passando pelo processo. Nos Estados Unidos, a eleição está marcada para o dia 5 de novembro, mas já começou em Ohio (loucuras de um sistema eleitoral bem confuso!).

Quanto à minha descrição inicial deste processo ("que se abate"), é isso mesmo que eu quis dizer. Não quero soar reacionário, amigo da ditadura, e nem socialista ou alguma bizarrice história do gênero. Mas não posso me abster da percepção de que o processo eleitoral brasileiro é ufanista mas não é democrático. Não em todas as suas conseqüências.

Um fator interessantíssimo (só pros teóricos do sistema!) é o nosso método representativo, em que você vota em um candidato e elege outro (ou outros!). Cada vez que voto em alguém para o Poder Legislativo (e isso ocorre em todas as eleições, infelizmente) a minha raiva é saber que o meu voto não é o que todos dizem! Eu, individualmente, não estou cooperando para definir a linha de raciocínio dos legisladores nos próximos 4 anos. Apenas dou a minha contribuição para a distribuição de cargos entre partidos tão iguais que passam a não fazer diferença. E, se isso é incompreensível para mim, imaginem para aqueles que não lêem e não compreendem o mundo a sua volta. Eles não vêem nenhum motivo para não vender seu voto ou não votar em qualquer mané com nome bonito e dinheiro no bolso. Na realidade, nem eu enxergo esses motivos, na maior parte do tempo!

Nos próximos posts quero enfatizar algo mais sobre o processo atual e suas discrepâncias, nacionalmente e principalmente aki na Grande Florianópolis, uma mistura sulista do caudilhismo portenho, coronelismo nordestino e uma esquerda fraquíssima, além dos aventureiros de sempre. Com a diferença que é uma região altamente promissora, com desafios pungentes para não perder o bonde.