segunda-feira, outubro 06, 2008

Eleições - Parte 2

Bem, passamos da primeira parte agoniante das eleições municipais no Brasil. Hoje, segunda-feira, é dia de análises, comemorações, muita sujeira na rua, e um "gostinho residual" de ressaca.

As análises são feitas em todos os telejornais, jornais impressos, revistas semanais, nas conversas de boteco, pelos meus alunos e colegas na academia, no ônibus e em todos os outros lugares do país. E essa é uma das vantagens dessas eleições municipais. O país participa como um todo, afinal todos (sem exceção)tem interesse nos resultados. Cada pequeno município escondido teve suas campanhas, seu interesse, a angústia da apuração. Ouvi inclusive de um pequeno município aqui em Santa Catarina em que a "angústia" durou apenas 7 minutos. às 17:07 já se sabia o resultado! Maravilhas da Urna Eletrônica!

Mas não posso ficar satisfeito com a análise de boteco! Se o Zé (analfabeto, desdentado, pai de 11 filhos) acha que o resultado foi bom, porque o novo prefeito vai asfaltar a sua rua, tudo bem! Mas que os formadores de opinião embasem suas análises em fatores tão pequenos quanto esse, é inaceitável! E nós, podemos nos contentar com análises do gênero: "este rouba mas faz", "este pelo menos fez alguma coisa", "este tem influência no governo do estado / país, e via trazer algum dinheiro pra cá", "este é amigo da minha classe / igreja / profissão", "este é simpático", "este é amigo / marido / namorado / parente de fulano"???

Infelizmente, é basicamente só isto que tenho ouvido! Desde ontem, praticamente todas as pessoas que comentam as eleições fazem análises desse padrão!

Mas vou fazer duas perguntas relacionadas a eleição municipal. São difíceis e provavelmente complicam muito a escolha de um candidato. Mas sem a resposta a elas, é ridículo pensarmos em alguma utilidade para o processo eleitoral. Se os critérios para escolhermos um governante são tão inconsistentes, qual é a diferença entre nós escolhermos ou uma comissão eleitoral escolher? Em tese, a chance de acertar é praticamente nula! A menos que consideremos a possibilidade de uma comissão justa e imparcial: neste caso, a chance de uma comissão acertar aumenta exponencialmente! As nossas chances, no entanto...

As perguntas são: "Qual é o projeto de cidade que o candidato possui?" e "Quais são as minhas expectativas para a cidade?". Em geral, ninguém nunca respondeu a segunda pergunta de forma honesta. Ninguém parou para pensar quais são as necessidades do município e elencá-las pensando numa visão de médio e longo prazos. Se nunca respondemos a segunda, mesmo que algum candidato responda satisfatoriamente a primeira, quais são os critérios para escolhermos.

Já avançamos muito como povo brasileiro. Quero deixar claro que não defendo a volta ao colégio eleitoral, a ditadura ou qualquer forma de governo tipicamente sulamericana. Mas ainda estamos diante de um longo caminho! Colocar o exército nas ruas do Pará ou do Rio de Janeiro apenas prova que o trabalho de democratização brasileira ainda será longo. Eleger governantes que utilizam a máquina pública pra fazer campanha ou que só trabalham com afinco no último ano para serem reeleitos, provam o mesmo desafio.

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