quarta-feira, novembro 16, 2011

Confusão de Gerações

Me admiro com recorrência da capacidade de os velhos agirem como crianças: irresponsáveis, impressionáveis, ingênuos e futriqueiros.
Também me admiro, e cada vez mais percebo isto, da capacidade de os jovens agirem como velhos: ranzinzas, resmungões, impacientes, opiniáticos, críticos.
Maturidade e jovialidade deveriam ser virtudes buscadas por cada pessoa, independente da idade. O equilíbrio entre estas condições é imprescindível a alguém que seja admirado por seus pares. Agir como crianças irresponsáveis, que não assumem seu tempo, dinheiro e relacionamentos, é tão ridículo quanto passar a vida a lamentar o não-realizado, as impossibilidades.
Acredito mesmo que esses desequilíbrios são ainda mais perniciosos na minha profissão. O educador, por definição é um preceptor, um aio, um pedagogo. Ou seja, seu papel é o de conduzir os mais jovens ou os mais inexperientes no caminho do conhecimento, da cultura (no sentido do que é construído e acumulado pelos ancestrais), e das possibilidades. O mestre é o que descortina à vista do outro a realidade e o que ainda não é, de modo a despertar intenções e atitudes.
Um mestre “velho“ ou “moleque“ boicota os sonhos, inibe as realizações, interrompe a esperança. Fico a imaginar a mente dos pequenos (ou não tão pequenos assim, já adolescentes e jovens) ao chegarem à escola, cheios de energia e expectativa, mas ouvindo o tempo todo um professor (ou professora) que grita aos quatro ventos: "Não tenho esperança com relação a minha vida, estou frustrada" e ao mesmo tempo, com o dedo em riste: "Você não tem jeito, não vai dar nada, ninguém te aguenta!".
É simplificar por demais imaginar que melhores salários para os professores resolveriam esta situação. A luta pelo desenvolvimento da educação, por sua valorização, pela formação e aprimoramento dos professores é fundamental a uma nação, sem dúvida. Mas o problema do qual estou falando é muito mais profundo. Vivemos numa sociedade em que os jovens não acreditam que podem fazer alguma diferença e em que os velhos se tornam cínicos.

sábado, novembro 05, 2011

O direito de ler em voz alta

"Estranho desaparecimento, esse da leitura em voz alta. O que é que Dostoievski teria pensado disso? E Flaubert? Não se tem mais o direito de pôr as palavras na boca antes de enfiá-las na cabeça? Não há mais ouvidos? Nem música? Nem saliva? Nem gosto nas palavras? E além de tudo e ainda mais! Será que Flaubert não se pôs a gritar (até fazer explodir os tímpanos) seu Madame Bovary? Será que ele não está definitivamente mais bem equipado do que qualquer outro para saber que a inteligência do texto passa pelo som das palavras, lá onde se faz a fusão dos seus sentidos? Será que não é ele que sabe, como ninguém mais, ele que tanto brigou com a música intempestiva das sílabas, a tirania das cadências, que o sentido é algo que se pronuncia? O quê? Textos mudos para puros espíritos? A mim, Rabelais! A mim, Flaubert! Dostô! Kafka! Dickens!, a mim! Venham dar um sopro a nossos livros! Nossas palavras precisam de corpos! Nossos livros precisam de vida!
"É verdade que o silêncio do texto é confortável... não se arrisca a morte, como Dickens, a quem os médicos pediam que calasse enfim seus romances... o texto e cada um... todas essas palavras amordaçadas na amolecida cozinha de nossa inteligência... como pode se sentir alguém nesse silencioso tricotar de nossos comentários!... além disso, julgando o livro à parte, a sós, não se corre o risco de ser julgado por ele... é que,desde que a voz se mistura, o livro diz muito sobre seu leitor... o livro diz tudo.
"O homem que lê de viva voz se expõe totalmente. Se não sabe o que lê, ele é ignorante de suas palavras, é uma miséria, e isso se percebe. Se se recusa a habitar sua leitura, as palavras tornam-se letras mortas, e isso se sente. Se satura o texto com a sua presença, o autor se retrai, é um número de circo, e isso se vê. O homem que lê de viva voz se expõe totalmente aos olhos que o escutam.
"Se ele lê verdadeiramente, põe nisso todo seu saber, dominando seu prazer, se sua leitura é um ato de simpatia pelo auditório como pelo texto e seu autor, se consegue fazer entender a necessidade de escrever, acordando nossas mais obscuras necessidades de compreender, então os livros se abrem para ele e a multidão daqueles que se acreditavam excluídos da leitura vai se precipitar atrás dele."

Pennac, Daniel. Como um romance. RJ: Rocco, 1993.

quarta-feira, outubro 05, 2011

Meu avô, Elizeu

Fui desafiado, poucos dias após o falecimento do meu avô, a escrever sobre o significado que ele teve, especificamente na minha vida. Sou o neto mais velho e convivi com ele mais tempo do que meus irmãos e primos, e tenho lembranças mais antigas e mais nítidas de algumas características deste homem que, para todos nós, é a representação do ser Justino e do ser Cristão. Demorei, pensei muito sobre o assunto e aqui está o primeiro esboço do que posso dizer.


Primeiro, o mais importante. O modelo de cristão que temos na figura do seu Elizeu me faz pensar sempre na passagem de Hebreus 12:1-2: "Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-os de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus." O autor deste livro se coloca na posição de herdeiro da fé daqueles homens listados no capítulo 11 (a tal multidão de testemunhas), e enxerga nessa herança o modelo para continuar perseverando na proposta de Cristo. Hoje, posso dizer a mesma coisa: sou herdeiro de uma fé que me foi passada, não pelo sangue dos meus pais, mas pelo testemunho de um homem como o seu Elizeu, simples e humilde, mas comprometido com a Palavra, perseverante no estudo, na oração, no ensino e na aplicação.
O autor da carta aos hebreus lembra de Abel, Enoque, Noé, dos patriarcas, de Moisés e lista tantos outros. Hoje, há muitos outros que podem ser listados, homens "atuais" mas que preservaram a mesma esperança dos primeiros servos de Deus. Naqueles tempos, vislumbravam a promessa da redenção, do sacrifício de Cristo, que substituiria o nosso sangue. Hoje, tendo já recebido o sacrifício e crendo no relato das testemunhas oculares, andamos na promessa da instalação definitiva e plena do Reino de Deus, com o retorno de Cristo. Chamamos Heróis aqueles homens que, antes de ver, creram. Tinham "a certeza das coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se vêem". Portanto, nada mais justo do que considerar o vô como mais um nessa nuvem de testemunhas, heróis da fé, que pautaram sua trajetória na Palavra de Deus. Não acredito que exista maior privilégio neste mundo do que conhecer, conviver e aprender com homens assim.
No segundo aspecto, algo muito interessante aconteceu nesta família. Com o tempo, criamos uma instituição: a Justinolândia, ou o "ser Justino". Não é pouca coisa, este nome está carregado de conotações e de princípios. O Justino é crente, acredita na instituição Família - criada e mantida por Deus, acredita na Igreja e no ministério que todos nós temos no meio dela. Reconhece nos parentes (muitas vezes tão achincalhados na cultura popular) irmãos de verdade, herdeiros do mesmo sangue e da mesma tradição. Reconhece nos "agregados" novos membros da família, e não apenas estranhos. Algumas coisas o vô nos mostrou sobre isso, até depois de morto. Um amigo seu, velhinho, esteve ao lado do caixão durante toda a madrugada, no velório, e até o final do enterro. Um garotinho, seu vizinho, fez questão de ir ao enterro e depositar uma flor sobre o caixão. A família toda, cantando, cuidando uns dos outros, passou 3 dias que, apesar de muito difíceis, não posso definir com menos do que "maravilhosos", após o enterro.
Nada disso é de graça. É, sim, por graça de Deus, e fruto de uma vida toda (83 anos) dedicada a Deus e a sua família, a Igreja e aos amigos.
Me lembro do vô nos buscando (eu e meu irmão) com seu Chevette amarelo, em frente a escola, muitos anos atrás. Nos levando para almoçar na sua casa: arroz e feijão, carne de panela, couve refogada, farofa, laranjada. Mas sempre ele primeiro orava, depois servia a salada, e só depois o restante da comida.
Em um dos últimos anos, de férias em São Paulo, tive a oportunidade de estar reunido com meus irmãos e primos na cozinha da casa dele. A vó estava escrevendo suas memórias, e o vô nos contando inúmeras lembranças, nos perguntando nossos planos. Nós sabíamos que ele orava por nós todos os dias e sabemos que Deus ouviu suas orações até o último dia.
Meu avô faleceu como viveu: em paz com seu Deus, e isto refletiu na vida de todos nós. No último ano antes de morrer ele viu 3 de nós casarem, viu nascer o primeiro bisneto. E, com base no testemunho dele, só posso crer que Deus cumprirá sua promessa de guardar a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e guardam os seus mandamentos. Meus filhos e netos certamente serão abençoados pelo testemunho deste homem.

terça-feira, agosto 30, 2011

Amor e Respeito

A idéia aqui não é fazer uma resenha do livro, mas apenas alguns comentários sobre a maneira como ele impactou na minha mente.
Para explicar, o livro é "Amor e Respeito - O que ela mais deseja, o que ele mais precisa", de Emerson Eggerichs, publicado pela Ed. Mundo Cristão, e traduzido para o português pelo meu tio Emirson Justino.
O livro foi presente dos meus pais para a minha sogra, em um aniversário, 2 ou 3 anos atrás, quando eu ainda namorava a Sara. Na época não era algo que me interessava muito, mas com a proximidade do casamento é claro que me senti um pouco mais ansioso com tudo o que envolve e procurei livros que me ajudassem. Encontrei alguns na biblioteca dos meus pais e outros na casa dos meus sogros, mas este foi o que chamou mais a minha atenção, talvez pelo título, talvez pelo tradutor, e talvez pelo enfoque bíblico que parecia ter. Digo isto porque muitos dos livros com os quais me deparei pareciam mais focados em perspectivas psicologistas, comportamentais, do tipo Auto-Ajuda, e não tenho muita paciência para gente que acha que está reinventando a roda. Definitivamente queria algo que fosse centrado em ensinamentos bíblicos e que que fosse realista com as crises que eu poderei enfrentar com a Sara.
Comecei a lê-lo alguns dias depois do casamento, mas naquele momento não pareceu que eu aproveitaria muito. Talvez a introdução não tenha chamado muito a minha atenção ou talvez eu ainda estivesse muito em um clima de lua-de-mel e ainda não tivesse noção de como seria realmente o cotidiano de casado. Mas quando completei 5 meses de casado (no início deste mês) voltei a ler, e já foi bem diferente. É claro que ainda estamos vivendo um momento de lua-de-mel que tem sido maravilhoso, mas já temos nossas rusguinhas por conta da rotina, dos problemas da casa, de dinheiro, das decisões, etc. E comecei a me enxergar naquela leitura.
Acredito que Deus tem me abençoado de inúmeras maneiras, realizando verdadeiros milagres a cada dia no meu casamento. E acredito que uma destas bençãos tenha sido encontrar este livro, já no início do que podem ser muitos anos de casado. Já li o livro todo, já devolvi para a minha sogra. Mas já está na listinha das próximas aquisições. Quero tê-lo na minha estante, voltar a ele e não esquecer de Efésios 5:22-33, a base do livro.

quarta-feira, julho 27, 2011

Nostalgia

Mais do que saudade, e não necessariamente envolvendo algum grau de tristeza. É difícil explicar o significado desta palavra, mas dá pra entender quando a gente sente: um aperto no estômago, certo calor no rosto ou vontade de chorar, ou quando você não consegue parar de pensar sobre as pessoas, os lugares, as viagens, as brincadeiras, aquilo que passou e nunca mais passará de novo.
Há dias em que a nostalgia invade nossa rotina. Os motivos podem ser bem percebidos: um casamento, um nascimento, um falecimento, uma formatura, o batismo de alguém, a conversa com um amigo de anos.. Às vezes não... pode ser apenas uma lembrança, um cheiro, uma cor, um olhar.
Estou bem nostálgico no último mês. O falecimento do vô, em SP, foi o start, sem dúvida. Lembrar dos momentos maravilhosos, do testemunho deste homem, da família em que, por graça de Deus, nascemos. Mas tb foi um momento de comunhão da família, de conversas maravilhosas, de chorar e sorrir juntos. Tivemos o momento valiosíssimo de reunir os 9 netos do Seu Elizeu, todos dormindo na mesma casa na noite do velório, um cuidando do outro.
E agora, dias depois (e meses e anos depois, com certeza), há lembranças, fotos, testemunhos sobre o que essa família se tornou, graças a este homem, por graça e cuidado de Deus.
O lado mais legal da nostalgia (sim, é um sentimento bom) é saber que esses momentos maravilhosos aconteceram por que pessoas se esforçaram e se mantiveram fortes e firmes, nos ensinando a Palavra, nos mostrando a cada dia o valor da Igreja, da família como instituição de Deus, do cuidado e do fortalecimento dos relacionamentos. E saber que daqui a 10, 20 ou 30 anos poderemos ter os mesmos motivos para nos reunir, para reunir os filhos e netos, para compartilhar fotos e lembranças.
Que os primos ainda se considerem irmãos, que os sobrinhos se considerem filhos, que os "agregados" sintam-se também "Justinos", mesmo sem o nome, mas sintam orgulho de fazerem parte desta história. Que os vizinhos vejam nosso testemunho, que haja amigos para uma vida toda, que crianças e velhos se amem.
Basta que sejamos fiéis a Deus, perseverantes na Palavra, valorizando e construindo vínculos que são mais fortes do que o sangue.

quarta-feira, abril 27, 2011

Até onde interferir?

De certa maneira, continuando o post anterior, acho que é extremamente relevante discutir o ponto até onde o Estado, como instituição, deve interferir na vida dos "sócios", os cidadãos. Afinal de contas, como disse anteriormente, o Estado é um mecanismo criado a partir das necessidades que os cidadãos individualmente se viam incapacitados de suprir. Não pode, por conseguinte, interferir em assuntos que não interessam ao sócio delegar. Por exemplo, não seria razoável que uma empresa de segurança privada tomasse a liberdade de interferir na dieta do seu proprietário - essa empresa não foi criada para isso e não tem autorização do indivíduo para deliberar sobre assuntos da sua esfera pessoal.
Mas parece muito simples e óbvio quando tratamos do assunto a partir da iniciativa privada. Temos até a tentação de rir da obviedade do exemplo acima. Infelizmente, não é tão evidente assim quando tratamos de um Estado, que no fim das contas possui 190 milhões de sócios / clientes, com interesses os mais variados e que, por outro lado, é administrado por uma determinada burocracia. Essa burocracia (também parece muito óbvio dizer, em nosso país) está muito distante dos interesses dos sócios / cidadãos, tanto no que se refere aos seus objetos de intervenção (veja o post anterior) quanto no que se refere a própria administração dos recursos destinados a estes objetos.
Para deixar mais claro, a burocracia governamental não tem nenhum interesse em atender as necessidades primeiras da sociedade. Os interesses são outros e normalmente estão ligados às próximas eleições majoritárias ou legislativas, ou às possibilidades de indicações políticas, ou mesmo as coligações intra e inter partidárias. Não sejamos injustos: existe em algum lugar, em algumas mentes, o interesse por atender as demandas sociais. O único problema é que esse interesse encontra inúmeros entraves na máquina que foi criada para gerenciar o país.
Aliás, um rápido comentário: o termo GERENCIAR é estranho a este contexto, no nosso país. De certa maneira, é até ofensivo neste círculo utilizar qualquer termo que remeta à idéia de gestão, responsabilidade, administração, planejamento, etc. Não é esta a função dos políticos (os tais membros da burocracia governamental), na visão deles próprios. E quanto mais próximo se está do núcleo de poder dos governos no Brasil, mais longe se está de uma compreensão de Estado que exija compromisso em gerenciar os recursos e as demandas da sociedade.
Mas, em um Estado como o nosso, tendo em vista os objetos principais citados no post anterior, quais são as áreas em que o governo atual deveria colocar as mãos, e em quais não deveria nem pensar em se meter?
Tenho algumas opiniões, ficam as dicas:
1. Infraestrutura de Transporte, Abastecimento, Energia e Saneamento: Por acreditar que o papel do Estado seja permitir aos indivíduos a execução de seu potencial econômico (afinal de contas retira responsabilidades do indivíduo para que este possa dedicar-se à sua atividade principal), tenho clareza de que é papel do Estado planejar e determinar as prioridades e a forma de execução de obras que diminuam os custos de produção e que proporcionem para toda a sociedade os recursos mínimos à execução de suas atividades. Portanto, é responsabilidade do Estado dirigir o planejamento estratégico das regiões, estudar, regular e licitar as obras necessárias, além de efetuar um controle severo na execução. Mas o governo não faz, gerencia. O Estado não é indutor do crescimento, o Estado é regulador e fiscalizador. Quem induz o crescimento é a iniciativa privada (e isto o Brasil tem de sobra, apenas é preciso retirar todos os empecilhos que se acumulam no caminho). No caso da estrutura mantida pelas estatais, já passou da hora de serem terceirizadas. Existem inúmeras empresas mais competitivas e competentes no mercado.
2. Cultura, Esporte e Turismo: Além de uma legislação clara e aplicável, e de uma fiscalização competente na execução dessa legislação, mais nada... Ou seja, acaba com os Ministérios e Secretarias Cabides-de-Emprego. Se o povo quer festa, esporte, promoções, etc, que se organize por si e promova. Com exceção da necessidade de promover o turismo de uma nação no exterior, que pode estar a cargo do Ministério de Relações Exteriores, juntamente com o Comércio Exterior. E pára de ver o Lula vendendo o Corinthians no exterior. O Corinthians não precisa disso e nenhum dos cidadãos que torcem pelo Corinthians ou por qualquer outro time, e que pagou o Lula durante 8 anos para trabalhar pelos interesses da nação. Um bom exemplo vem da Patrícia Amorim, que vendeu o Flamengo por si só na visita do Obama ao Brasil. Esse é o papel dela, não de nenhum político.

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Brasil 2011

Tenho pensado muito sobre muitas coisas nos últimos dias, mas com a correria (e uma certa dose de desleixo também) tenho deixado de escrever. O "tema de hoje" é a maneira como enxergo o conceito de Estado ou Nação. Pode parecer simplista, por não se aplicar a realidade da imensa maioria das nações atualmente, ou pode parecer Capitalista, Neoliberal ou qualquer outro "xingamento" que se tornou recorrente em nosso país. Não consigo me enquadrar nesses rótulos, não por que tenha algum outro, mas porque não tenho talvez conhecimento suficiente de cada um e de todos os outros para realizar a diferenciação. Mas entendo o seguinte:
Um Estado é uma iniciativa de seu próprio povo. Em tese, um Estado nada mais é do que um empreendimento comum a todo um conjunto de pessoas. Normalmente esse grupo tem alguma origem comum, seja étnica, cultural ou apenas histórica (como é o caso brasileiro - várias etnias, várias culturas, uma história em comum).
Por sua vez um povo é composto por indivíduos, sócios. cada indivíduo é um pequeno empreendedor, desenvolve seus próprios negócios. Quem não é "dono de algum meio de produção" (como diria Marx) é, no mínimo, dono de sua própria força de trabalho. No seu cotidiano, esses indivíduos tem uma série de responsabilidades e interesses, focados na administração daquilo que está sob a sua alçada: casa, carro, trabalho, empresa, filhos, esposa, lazer, etc.
Mas, em determinado momento de sua história, os indivíduos se enxergam como povo e reconhecem semelhanças e interesses comuns, além de necessidades comuns entre si. Também reconhecem que há determinadas necessidades que cada um não consegue atingir. O indivíduo percebe que sozinho não é capaz de desenvolver seus potenciais nas áreas de maior interesse, porque precisa dar conta de uma série de outras atividades com as quais não se identifica. Surge a possibilidade de uma certa divisão de responsabilidades, de tarefas. Cada qual assumindo atividades para as quais tem vocação, ou maior capacidade, talento. As primeiras sociedades se estabelecem: o caçador, o coletor, o pajé, o cacique, o guerreiro.
Com o seu desenvolvimento, essa sociedade se torna mais exigente, mais complexa, surgem novas necessidades, novas possibilidades também. Pode ser que surja a burocracia, a necessidade de um corpo regular de segurança (surge o conceito de "monopólio da força", por parte de uma polícia ou das forças armadas), a hierarquia, o comércio. E surgem sociedades próximas, com as quais é necessário manter relações, seja de comércio, seja de disputa territorial.
As necessidades vão se tornando mais complexas, e os indivíduos, sócios deste sistema, criam uma instituição que terceirizará os serviços para os quais cada um não tem tempo ou talento. Esta instituição é o Estado. Ou seja, cada um é sócio e cliente do Estado.
O Estado, da mesma forma que qualquer empresa tocada pelos indivíduos, presta serviço aos seus clientes, oferece produtos. Neste caso, posso listar alguns, e é claro que haverá divergências quanto ao limite em que o Estado deve interferir em cada área. Vejamos:
- Segurança: o Estado recebe dos seus sócios / clientes o direito de utilizar a força (dentro de limites estabelecidos) para manter um nível adequado de liberdade e ordem.
- Administração da Moeda e Regulamentação dos Mercados: está na moda discutir os limites da interferência, mas acredito que seja consenso nas sociedades complexas que este é um monopólio do Estado, independentemente do grau da atuação.
- Elaboração e Execução da Legislação: incumbências dos poderes Legislativo e Judiciário, com reflexo em todas as outras funções, visando a Justiça, em todos os seus aspectos.
- Relação com outros Estados: política externa, representação nos fóruns maiores (ONU, FMI, OCDE, ou seja lá qual for), proteção e atendimento de cidadãos em outros países, defesa dos interesses do povo.
- Saúde e Educação: basicamente são serviços para os quais os cidadãos individualmente não são competentes, portanto delegam ao Estado que reunirá cidadãos com diversas capacidades para atender às demandas da população.
Na minha visão, essas são as funções do governo, ou seja, dos indivíduos selecionados, de acordo com sua índole e capacidade, para administrar o Estado. Com base nessa estrutura é possível pensar a relevância e a responsabilidade de se administrar os impostos (cotas de participação societária de cada indivíduo) na busca de oferecer a melhor prestação de serviços para os clientes (que, no fim das contas, são as mesmas pessoas).
No fundo, tudo passa pelo desafio colocado por Deus aos homens, lá no gênese, quando:
"E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra. E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento. E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim foi. E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã, o dia sexto."

domingo, janeiro 30, 2011

Mulheres e Homens

Me peguei pensando esses dias sobre uma constante : as mulheres tem uma idéia totalmente negativa sobre nós. Algumas tem uma idéia tão negativa, que não nos consideram dignos nem de sexo. Afinal de contas, homens homossexuais admiram e imitam as mulheres, mas mulheres homossexuais esnobam e sentem raiva dos homens! Pode parecer bobagem, uma generalização. Mas acredito que, no grosso, faz sentido. E faz sentido justamente porque, em nossa sociedade, o homem "manda", mas não tem legitimidade, não é reconhecido nem como igual, imagina como líder em qualquer instância. Somo vistos, geralmente, como ignorantes, curtos de entendimento, violentos, viciados em sexo, viciados em jogos (de qualquer tipo), incompetentes para administrar dinheiro ou qualquer outro recurso. Somos vistos assim por mulheres e pelos próprios homens. Homens são carentes de cuidado, carentes de aceitação e de respeito. Muito mais, e aí talvez seja verdade, do que as mulheres de hoje, que aprenderam a ser tão independentes, que são tão corajosas. O homem se perdeu, não sabe pra que lado olhar, não sabe em que direção investir. Quem se acha é bem sucedido, mas nem sempre é completo. Somos testosterona, precisamos do desafio, da aventura. Mas precisamos de um lastro, uma ajudadora. Sem isso, somos apenas uma pipa com fio cortado...

sábado, janeiro 29, 2011

Solidão

Eita feriazinhas mais conturbadas!! No início de dezembro tive a ruptura do ligamento no tornozelo, e até agora ainda estou em função disso, fisioterapia, etc. Além disso, estou trabalhando desde o início de janeiro, na academia, como um bico. E ontem extrai 2 sisos, tô com a boca ainda bem inchada, dor, dificuldade pra comer, etc. O básico.. E tem a organização do casamento, que demanda tempo, paciência e uma certa dose de ansiedade. Mas tento levar essas coisas de forma bem tranquila, a gente faz o que tem que fazer e aproveita ao máximo as situações.
A minha dificuldade maior para tocar esse tempo tem sido a enorme quantidade de horas em que passo sozinho! Muito tempo dentro de ônibus ou da baia da fisio, tempo sozinho em casa, e mesmo quando estou na academia, não deixa de ser um tempo solitário, pq não estou ali como amigo das pessoas (por mais que tenha amizade com elas, e que converse sempre, sobre os mais variados assuntos), mas como um profissional, no momento de lazer daqueles alunos. Na realidade, mesmo dar aula em uma escola, como eu faço durante o ano, é um trabalho solitário - solitário frente a 25 alunos, por mais que eles sejam participativos.
Não estou reclamando. Apenas refletindo o quanto está se tornando necessário que as pessoas aprendam (eu inclusive e principalmente) a viver muito tempo apenas consigo mesmo. Até este blog é a própria prova do que estou dizendo. Falamos para uma tela de computador, e outras pessoas, tb sozinhas lêem e compartilham ou discordam das minhas impressões. Às vezes se manifestam, mas na maior parte das vezes não. E isso acontece o tempo todo, ao redor de todo o mundo.
A internet tem o papel master de mostrar isso: o que são as redes sociais, os serviços de conversa eletrônica, até os portais focados em pornografia, senão paliativos para o sentimento de isolamento e inadequação das pessoas? Infelizmente, nesse sentido eles não tem alcançado sucesso: arrebanham milhões de pessoas, famosas ou anônimas, ricas e pobres (pelo menos as que frequentam Lan Houses ou tem internet acessível no serviço), mas nenhuma dessas pessoas sentem-se mais integradas ao mundo quando encostam a cabeça no travesseiro. Continuam solitárias, mesmo em uma casa cheia de gente, numa festa cheia de gente, ou assistindo o Big Brother, e ligando inúmeras vezes para definir o rumo dos confinados. Continuam sozinhas e sem nenhum sentido de relevância frente ao mundo.
Somo "seres sociais", como dizem os estudiosos (também eles solitários em seus estudos e divagações), e sofremos com essa necessidade, precisamos de gente. Não é fácil, para ser humano nenhum, lidar com isso, e cada vez teremos que despender mais energias para superar esse desafio.